Mutantes (1969): 40 Anos E Ainda Inovador


Por: Lafaiete Jr.

“A vida é um moinho / é um sonho o caminho”.

Assim começa o segundo álbum d’Os Mutantes, Mutantes (1969), lançado na última semana de fevereiro de 1969. E o caminho da banda, centrada na tríade Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, era mesmo de entrar para a história da música dali para sempre. Ou desde o primeiro disco, Os Mutantes (1968), lançado no ano anterior. Não é preciso ser nenhum mago para adivinhar que Os Mutantes ainda irão influenciar artistas daqui uns 50 anos. Sem dúvida. E isso não é sonho quixotesco. É crença na qualidade artística de uma banda que surgiu munida de competência, qualidade, ineditismo, irreverência e audácia. Isso ainda na virada história dos anos 60 para os 70. Época de extrema criatividade para os então jovens Mutantes.

Se a tal prova do segundo disco, nos dias de hoje, é o terror para bandas que surgem a cada virada de rua ou site de relacionamento, imagine para uma banda que transitava na turma dos Tropicalistas e, sobretudo, vinha de um disco de estreia com músicas que, não muito tempo depois, seriam reconhecidas como clássicos absolutos da música brasileira. Tais como “Panis Et Circenses”, “Baby”, “Bat Macumba” e “A Minha Menina”. Pra ficar só em alguns exemplos. Os Mutantes, de acordo com a história, não se preocupavam com nada que não fosse sua música (nós e as pessoas na sala de jantar agradecemos) e, em uma semana e meia, de acordo com a lenda, gravaram o segundo álbum, que completa quatro décadas este ano. Mutantes (1969) foi um passo adiante que demonstrou maturidade e continuou livre de qualquer padrão estético e musical.

Novamente com parceria do Maestro Rogério Duprat e do “inventor” Cláudio César Dias Baptista (irmão de Arnaldo e Sérgio, responsável pela parafernália instrumental d’Os Mutantes), a banda continuou seu caminho, talvez inconsciente, de transar o Brasil com o mundo e vice-versa, quebrando barreiras e preconceitos dentro da música tupiniquim naquela época. Além disso, no segundo álbum, Os Mutantes não estão mais como sombra dos “líderes” do Tropicalismo, Gilberto Gil e Caetano Veloso. A banda deixa as parcerias (e regravações, como no primeiro álbum) de lado em direção a um caminho mais autoral. A parceria com um baiano, presente em Mutantes (1968), seria com Tom Zé na arcaicamente futurística “2001” e na genial “Qualquer Bobagem”. E a veia autoral da banda segue pela abertura com “Dom Quixote”, com a “continuação” para “She’s Leaving Home”, dos Beatles, “Fuga Nº II” e, entre outras, um jingle feito para uma campanha publicitária da Shell, “Algo Mais”. “Infinitamente melhor que a maioria das canções que andam pelas praças e paradas”, como bem ressaltou Nelson Motta no texto presente na contracapa do LP. O interessante é constatar que ela ainda permanece bem melhor que a maioria das músicas que rodam pelas paradas.

Anos luz a frente do seu tempo, Os Mutantes criaram, na diversidade, a identidade para sua música, sua arte. Identidade que já podia ser observada no segundo álbum da banda, lançado em 1969 e que ainda permanece inovador. E tomara que artistas e mais artistas olhem para o passado com a mesma sede de novidade que impera no mundo de hoje em busca de novas idéias e rumos e, sem esquecer do presente, se perca por lá escutando Mutantes (1969). Ou qualquer bobagem.

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Autor: Diego Camargo

Editor chefe do Progshine

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