Entrevista: Roine Stolt (Entrevista Exclusiva)


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Por Diego Camargo

Roine Stolt é uma figura importantíssima para o renascimento do Rock Progressivo nos anos 90. À frente de seu grupo Flower Kings ele ajudou a dar uma nova cara ao gênero, mantendo as raízes setentistas mas trazendo o novo mundo no mesmo caldeirão.

No entanto, nos últimos anos Roine se aventurou por diversos territórios diferentes e é sobre isso que a entrevista a seguir fala.

O Progshine teve mais uma vez (já o entrevistamos em 2012, leia AQUI) a oportunidade de bater um papo com o músico Sueco por e-mail e o resultado você confere abaixo em mais uma exclusiva entrevista que você só encontra no Progshine!

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Roine Stolt com o Flower Kings (2014)
Roine Stolt com o Flower Kings (2014)

Progshine – Eu queria começar essa entrevista tirando uma ‘pedra’ do caminho. Você tem trabalhado em diversos projetos nos últimos anos, o Karmakanic está com disco novo, Hasse também lançou discos com sua banda, Tomas também lançou disco solo recentemente, etc. O Flower Kings ainda está na ativa?

Roine Stolt – Por enquanto o Flower Kings não está ativo. Não vamos dizer nunca – mas no momento eu não sinto nenhuma vontade de trabalhar com o Flower Kings, nem em discos e nem ao vivo. Existem tantas outras avenidas interessantes pra se caminhar – muito mais interessantes do que o Flower Kings. Como você disse, os outros membros da banda tem seus próprios projetos – e pra mim esse foi um dos problemas com a banda – eu queria ter UMA banda em que todos trabalhassem duro pra levar a banda sempre pra frente – mas os egos acabaram atrapalhando tudo. É uma coisa humana – parte da vida – mas fez com que a minha vida ficasse incerta – e com todo o dinheiro que eu investi na banda ao longo dos anos, eu simplesmente não me via mais investindo na banda, tanto emocionalmente quanto monetariamente – sem que os outros membros seguissem o mesmo caminho.

Progshine – Então, agora que essa difícil pergunta saiu do caminho, vamos falar sobre os seus projetos mais recentes. Desde meados de 2014, quando o Flower Kings entrou em pausa, você gravou e excursionou com o Transatlantic, fez turnês com o Steve Hackett, gravou um disco com o Jon Anderson e remontou o Kaipa. Tudo isso seria o Roine tentando concretizar os sonhos da juventude em gravar com ícones do Rock Progressivo ou apenas algo que você decidiu fazer antes que não fosse mais possível?

Roine – Eu tento fazer as coisas da maneira com que elas aparecem pra mim. Eu me diverti muito excursionando com Steve Hackett – tocando as músicas do Genesis e dos discos mais antigos dele – Steve é uma pessoa maravilhosa e ele é muito generoso. Antes de tocar com Steve eu já estava trabalhando com Jon Anderson – assim como Steve ele é uma pessoa fantástica – e eu as vezes me pego sorrindo – porque eu vejo muito da minha personalidade nele – de certa forma nós somos realmente “irmãos” – a maneira com que nós dois vemos a música, tudo está conectado. Jon é um perfeccionista, como eu também sou – ele é muito dedicado, um verdadeiro artista.
Em relação ao Transatlantic – eu não sei – é difícil dizer – mas eu duvido que nós façamos algo juntos tão cedo – ou talvez nunca mais façamos nada.

Roine Stolt com o Transatlantic (2014)
Roine Stolt com o Transatlantic (2014)

Progshine – Pra dar mais detalhe aos leitores, vamos falar de cada projeto. Sobre o Transatlantic primeiro, como foi a volta em 2014 com Kaleidoscope e a turnê que seguiu o disco? Você não acredita que a banda vá trabalhar junto no futuro?

Roine – A experiência com o disco ‘The Whirlwind’ (Nota do editor: lançado em 2009) foi incrível – tanto o disco quanto a turnê – e eu acredito que esse seja o nosso melhor disco, nossa melhor performance como instrumentistas e também nosso momento mais relaxado. A inclusão do Daniel Gildenlöw nos shows ao vivo foi genial! O ‘Kaleidoscope’ é um bom disco, mas foi estranho a maneira com que ele foi construído – aquele sentimento de banda não estava lá, pelo menos não 100%. A turnê do disco também foi um sucesso, mas foi a mesma coisa – houveram momentos que não foram tão bons quanto em ‘The Whirlwind’. A banda tem uma capacidade quase infinita, mas na minha opinião nós não usamos toda a nossa capacidade. Talvez nós teríamos nos beneficiado se tívessemos um produtor de fora da banda trabalhando no último disco.

Roine Stolt tocando baixo com o Steve Hackett (2015)
Roine Stolt tocando baixo com Steve Hackett em Warfield (Março 2016)

Progshine – Agora sobre o Steve Hackett. Como foi excursionar com ele e tocar os clássicos do Genesis? Não só isso, você também aparece no DVD e no CD que foram lançados dessa turnê (N.E. The Total Experience Live In Liverpool). Como foi a experiência toda e como foi pra você tocar baixo, foi difícil pra você se adaptar ao instrumento?

Roine – Bom, foi maravilhoso tocar com Steve, nós fizemos cerca de 85 shows, nos EUA e Europa. Eu adorei tocar os clássicos do Genesis e outras da carreira solo do Steve como “Ace of Wands” do disco ‘Voyage Of The Acolyte’ (N.E. primeiro disco solo de Steve, lançado em 1975). Steve e a esposa dele, Jo, são pessoas incríveis – por mim eu tocaria pelo resto da minha vida com ele. Eu o conheço por quase 10 anos, eu toquei no disco ‘Genesis Revisited II’ (N.E. na faixa “The Return of the Giant Hogweed”, junto com Neal Morse) e também no show dessa turnê (N.E. registrado no DVD/CD ‘Live At The Royal Albert Hall’). A experiência toda foi fantástica! Tocar baixo foi muito divertido, eu na verdade comecei tocando baixo quando eu tinha 15 anos, só depois, aos 18 eu mudei pra guitarra. Eu amei tocar baixo de novo e tocar as linhas de (Mike) Rutherford como “Cinema Show”, “Get Them Out by Friday” e “Firth Of Fifth” no meu baixo Rickenbacker, foi muito legal.

Progshine – Eu imagino que ter gravado com Jon foi como um sonho que se tornou realidade. Como a ideia de trabalhar juntos surgiu e há quanto tempo você conhece Jon?

Roine – Nós nos encontramos uma vez, muito brevemente, no backstage de um show do Anderson Bruford Wakeman Howe em 1989 (eu duvido que ele se lembre disso…), nós nos encontramos de novo no show que o Transatlantic fez no Progressive Nation At Sea (N.E. em Fevereiro de 2014, um Cruzeiro Prog) onde ele também tocou. Na verdade o Transatlantic fez um show especial com ele nos vocais onde nós tocamos uma hora só de Yes. Nós tocamos músicas como “Revealing Science”, “And You And I”, “Long Distance Runaround” e “Starship Trooper”. Depois disso a nossa gravadora (N.E. InsideOut Records) sugeriu que nós deveríamos trabalhar juntos, e com certeza eles não precisaram me perguntaram uma segunda vez, Jon também aceitou rapidamente, nós ficamos amigos naquele show do Cruzeiro. O resto é história.
O disco se tornou bem popular e está vendendo bem. É um disco que todo fã de Yes/Jon deveria ter. Como o próprio Jon diz, o disco é um ‘marco’.

21-anderson-stolt-invention-of-knowledgeProgshine – E por falar nisso, foi intencional que em ‘Invention Of Knowledge’ vocês trabalharam com 4 longas músicas? Como nós tempos áureos do Yes?

Roine – Tudo evoluiu de algumas ideias bem básicas e as músicas foram ficando maiores – e nós dois ficamos contentes com a ideia de que o disco se tornasse mais como uma sinfonia, ou como uma suíte. Músicas longas estão em nossos DNA.

Progshine – Existe a possibilidade de tocar ‘Invention Of Knowledge’ ao vivo? Ou pelo menos uma turnê junto com Jon?

Roine – Jon já falou sobre isso diversas vezes. Da última vez que nos encontramos, em Londres, ele disse mais uma vez que nós deveríamos tocar o disco ao vivo, com uma banda completa e com orquestra – um show especial em algumas cidades maiores. Eu espero que assim que a turnê do ARW (N.E. grupo que reúne Jon Anderson, Rick Wakeman e Trevor Rabin e que tem turnê marcada até Abril desse ano) acabe nós possamos fazer isso. Seria fabuloso tocar o disco com uma banda completa e incluir algumas músicas do Yes, da carreira solo de Jon e talvez até algumas faixas do projeto de Jon com Vangelis.

Progshine – E você se vê fazendo esse tipo de parceria musical no futuro?

Roine – Se você se refere a Jon e eu – sim, nós já começamos a mapear ideias pro próximo disco.
Agora, no geral, com certeza eu me vejo fazendo outros albums como esse, em especial se for uma colaboração como essa com Jon. Com Steve foi diferente, era o caso de materializar ao vivo ideias que já eram bem claras. Os arranjos já estavam prontos e não havia muito espaço pra que eu colocasse minhas próprias ideias. Mas com certeza eu estou aberto para qualquer convite (você está me ouvindo Sr McCartney?)

Roine Stolt com o Kaipa Da Capo (2016)
Roine Stolt com o Kaipa Da Capo (2016)

Progshine – E sobre o Kaipa Da Capo. Eu confesso que fiquei confuso quando li sobre a banda, e ainda estou um pouco confuso sobre ela. Quer dizer que o Kaipa da Capo não é o mesmo Kaipa que começou nos anos 70 e depois de uma pausa voltou a lançar discos nos anos 2000? Você poderia explicar mais sobre o projeto? Existem dois Kaipa agora?

Roine – Este projeto novo, Kaipa Da Capo, é composto pelos membros originais do Kaipa: Ingemar Bergman (bateria), Tomas Eriksson (baixo) e eu na guitarra. Também temos dois membros novos: Max Lorentz (teclados e vocais) e Michael Stolt (voz e guitarra).
Nós gravamos 3 discos nos anos 70 – a banda também gravou dois outros discos depois que eu deixei a banda. Depois disso o grupo acabou e foram anos sem novidades. Nos anos 2000 o tecladista da banda (N.E Hans Lundin) gravou novos discos usando o nome Kaipa – mas essa versão é uma banda completamente diferente, são discos gravados por músicos de estúdio e não uma banda de verdade.

Então, resumindo, existem duas versões completamente diferentes do Kaipa agora. Mas essa banda, Kaipa Da Capo, é de verdade. Nós excursionamos e tocamos no novo disco, é uma banda completamente funcional, uma democracia, como era nos anos 70.

(Nota do Editor: Me parece que algo mais grave aconteceu por debaixo dos panos e essa história ficou mal contada. Roine também participou do Kaipa dos anos 2000. Na verdade ele tocou – e também compôs – em três discos da banda: ‘Notes From The Past’ (2002), ‘Keyholder’ (2003) e ‘Mindrevolutions’ (2005).)

darskapens-monotoni-2016Progshine – E isso nos traz à ‘Dårskapens Monotoni’, o primeiro disco do Kaipa Da Capo. Como foi o processo de composição e gravação desse disco?

Roine – As músicas foram escritas por todos os 5 membros do grupo. Nós traçamos um plano para esse disco e tentamos gravar ele focado nas composições, na música em si e não na técnica ou em partes complicadas. Nós queríamos que ele fosse um disco mais orgânico, como os discos gravados nos anos 60 e 70. Existe uma ‘vibe’ bem retrô no disco, sem dúvida nenhuma, mas nós tentamos ser mais abertos e colocar a música como foco principal porque não queríamos que o disco soasse como uma piada, como se fosse algo forçado para que soasse retrô. Nós gravamos as músicas ao vivo, todos juntos, no estúdio. E 90% dos instrumentos ouvidos no disco são reais, órgão Hammond, Piano, Rhodes, Órgão de tubos (como os órgãs de igrejas), Cítara, Harmônio, Flauta, Dobro, Guitarra Lap Steel, Acordeon, Saxofone… tudo de verdade, e é claro que também usamos todo tipo de Guitarras, Baixos e Baterias.

Progshine – Eu fiquei feliz em ver que ‘Dårskapens Monotoni’ é cantado em Sueco, eu amo quando bandas de diferentes partes do mundo usam suas próprias línguas pra compor. Foi uma decisão fácil de se tomar quando vocês começaram a compor pro disco?

Roine – Sim, nós queríamos que fosse em Sueco – porque era assim que fazíamos no começo, nos anos 70, mas também pra distinguir o Kaipa Da Capo dos meus outros projetos, que são todos em Inglês… Pelas resenhas que temos recebido eu percebo que 99% das pessoas acharam que isso foi o certo a ser feito, e os fãs aprovaram.

Kaipa Da Capo (2016)
Kaipa Da Capo (2016)

Progshine – Vocês vão excursionar com o Kaipa Da Capo para promover o disco?

Roine – Sim, na verdade nós estamos ensaiando pra isso agora mesmo. Na verdade assim que eu terminar de responder a essa entrevista eu vou ensaiar com a banda, na semana que vem começamos a produção para os shows com a equipe completa. Nos shows nós vamos tocar cerca de metade do novo disco e mais uma hora de material do 3 primeiros discos do Kaipa (1975-1978) – vai ser demais! Eu estou adorando poder tocar músicas como “Korståg”, “Sist På Plan” e “Skenet Bedrar” – elas soam bem melhores hoje em dia, mais cheias. A tecnologia dos sistemas de som de hoje é muito melhor do que nos anos 70 – a banda soa ótima hoje e nós também podemos ter todos os sons de estúdio como Piano e Mellotron, nos anos 70 não era viável trazer esses instrumentos conosco para a estrada.

Progshine – E quanto ao futuro Roine? O que você acha que o futuro tem reservado pra você? Você já tem planos novos?

Roine – Nesse momento eu estou trabalhando em mixagens alternativas em som 5.1 e 24/96kHz de ‘Invention Of Knowledge’ para uma edição limitada em formato art book. O disco soa insanamente bom em 24/96kHz e as mixagens soam limpas e sem nenhuma compressão, as dinâmicas são assombrosas. Eu diria que essa versão vai ser essencial para os fãs do Jon e de música hi-fi.
Depois disso eu vou trabalhar em um novo projeto estilo supergrupo. Eu ainda não posso revelar nada sobre o projeto, mas vai ser incrível. Ou como o pessoal diz: ‘vai ser da hora!’

Progshine – Antes de terminar a entrevista, eu queria te perguntar sobre seus discos favoritos. Eu adoro ler sobre os meus artistas favoritos e sobre a música que eles amam. Seria possível você fazer um top 10 com os seus discos Progressivos favoritos?

Roine – Ah, essa é uma pergunta muito difícil… eu amo tantos discos e muitos deles não são Progressivos… Mas OK, aqui vai uma lista de grandes discos Progressivos:

Procol Harum – Shine on Brightly
Hansson & Karlsson – Man at The Moon
Yes – Tales From Topographic Oceans
Genesis – The Lamb Lies Down on Broadway
Refugee – Refugee
Jon Anderson – Olias of Sunhillow
Vangelis – Mythodea
Gentle Giant – In a Glass House
Yes – Close to the Edge
ELP – Brian Salad Surgery

Progshine – Eu apenas gostaría de te agradecer, Roine, pela entrevista e eu gostaría de deixar esse último espaço para que você dê sua mensagem à comunidade Lusófona.

Roine – Seja a luz que você gostaria de ver nos outros!

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Roine Stolt links:
Flower Kings Site
Flower Kings Facebook
FKaipa Da Capo Reverbnation
Kaipa Site
Transatlantic Site
Amazon

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Autor: Diego Camargo

Editor chefe do Progshine

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