Entrevista Exclusiva Com Jonas Reingold


Por Diego Camargo
Agradecimentos: Luiz Szikora
(de Sorocaba) por fazer o ‘meio-campo’ e me colocar em contato com Jonas.

Jonas Reingold é mais conhecido como o baixista da banda sueca The Flower Kings, mas o músico já fez parte de diversas outras bandas e projetos, incluindo sua própria banda o Karmakanic. Atualmente ele também tem o seu próprio selo o Reingold Records.

Confira abaixo o bate papo descontraído que tive com ele através do Skype:

Progshine – Jonas, pra começar, conte pra nós como tem sido a volta do The Flower Kings?

Jonas – Tem sindo ótimo! Nós começamos a ensaiar as novas músicas esse mês. Temos 8 ou 9 músicas prontas, uma delas é um épico de 23/24 minutos. O novo disco irá se chamar Banks Of Eden (2012). Temos um novo baterista também, ele é de Berlim, um baterista alemão.

Progshine – E como chegaram até ele?

Jonas – Um amigo me deu essa dica, eu contei a ele que nós estávamos a procura de um novo baterista e ele me recomendou este cara da Alemanha. Eu fui até o site dele, ouvi algumas coisas que ele tinha gravado e pensei que ele podia ser o cara certo pra banda. Então eu entrei em contato e perguntei se ele queria fazer um teste com o Flower Kings, ele aceitou e ensaiou conosco. E ele é ótimo!

Progshine – E como ele se chama?

Jonas – Felix Lehrmann, ele tem 26 anos.

Progshine – O último baterista, Erik, tinha entrado para a banda pouco antes de vocês terem dado um tempo não foi?

Jonas – Isso mesmo, ele é um ótimo baterista, ele acabou nunca gravando conosco, fez apenas uma turnê.

Progshine – Então a formação da banda continua a mesma, exceto pelo baterista?

Jonas – Sim, a formação continua a mesma, Tomas nos teclados, eu no baixo, Roine nas guitarras, Hasse nos vocais e guitarras, e o novo baterista Felix.

Progshine – Quando eu descobri o The Flower Kings eu fiquei estupefato, porque a banda faz um Rock Progressivo com um toque de modernidade desde os anos 90, mas como se estivesse nos anos 70. Você acha que é isso mesmo?

Jonas – É, eu acho que é verdade, pode ser visto assim. Provavelmente tudo se deve ao Roine, você sabe, ele começou a tocar e gravar lá nos anos 70 com o Kaipa e ele é o principal compositor do The Flower Kings e também produz os discos. Eu acredito que tudo isso acaba fazendo com que soemos como nos anos 70. No entanto cada integrante contribui um pouco e isso faz com que soemos ‘modernos’ também. Mas quando eu olho para os nossos discos, eu posso dizer que o Flower Kings soa como o… Flower Kings (risos) com um pé nos anos 70, porque temos uma forte influência de bandas como King Crimson, Yes, Emerson, Lake & Palmer, Genesis, Pink Floyd, Procol Harum e até os Beatles.

Progshine – E acho que isso é o interessante, vocês pegam toda essa influência e misturam no seu próprio som, nunca emulando nenhuma dessas bandas.

Jonas – Não, nunca. Nós tentamos compor de uma maneira nossa, sem copiar ninguém, apenas integrando nossas influências.

Progshine – O que é mais interessante ainda, é que todos os integrantes da banda tem projetos diferentes, e nenhum soa como o Flower Kings. Agents Of Mercy, Karmakanic, Third World Electric etc.

Jonas – Eu acho que isso ocorre porque toda vez que vamos para o estúdio com pessoas diferentes tudo se torna diferente, quando estamos com o Flower Kings, eu, Roine, Tomas e Hasse nós temos o nosso próprio som. Mas se eu for para o estúdio com o Karmakanic, por exemplo, eu tenho uma banda completamente diferente com pessoas completamente diferentes e isso cria um ambiente diferente. E também, eu escrevo a maior parte do material do Karmakanic, não há participação de Roine por lá, e sendo ele o principal compositor do Flower Kings, tudo se torna diferente. E acredito que o mesmo aconteça com o Agents Of Mercy, lá o Roine escreve o material com a participação de Nad Sylvan. A única coisa que é completamente diferente é o 3rd World Electric, nesse caso eu e Roine nos sentamos e pensamos em gravar um disco que soasse como o Fusion Rock dos anos 70, como Weather Report, Chic Corea e Return To Forever.

Progshine – E com o Karmakanic? O que se passa com a banda depois do lançamento do In A Perfect World (2011)? E também preciso dizer que a cada disco vocês se superam, um é sempre melhor que o outro.

Jonas – Muito obrigado, isso é o nosso aprendizado, nosso aperfeiçoamento, assim espero (risos). Todas as vezes que gravo um disco tento fazer ele soar melhor que o anterior, fico feliz em saber que estou conseguindo. Porque esse é o meu objetivo, sempre escrever músicas melhores.
No Karmakanic estamos sempre tentando melhorar, dessa vez em In A Perfect World (2011) eu tentei dar mais ênfase às composições, ter boas músicas, boas letras, e não focar somente no instrumental. Queria um disco sólido onde cada música tivesse vida, pra isso eu trabalhei bastante nas letras, essa foi a maior mudança, tentei contar uma história em cada faixa, essa foi a parte mais importante pra mim nesse disco, pela primeira vez tão importante quanto a música em si. Inclusive tive ajuda de Julia Olsson que mora nos EUA pra dar uma cara verdadeira para as músicas e foi importante ter alguém nativo na língua para isso. Ela me ajudou muito no processo em que tipo de frases usar, quais palavras seriam melhores. Pra mim foi muito importante e muito bom, aprendi muito com esse processo.

Jonas ao vivo com o Agents Of Mercy

Progshine – E falando nisso, com todo o processo da internet nos dias de hoje, você sente algum impacto das novas tecnologias nos lançamentos dos discos do Karmakanic, por exemplo?

Jonas – Você se refere a todos os downloads ilegais?

Progshine – Especialmente isso, mas todo o ambiente da internet em geral também.

Jonas – Existem coisas positivas com certeza, e como tudo na vida, há coisas negativas. Os pontos negativos são, por exemplo, quando eu lanço um disco eu preciso pagar os músicos que tocaram nele, eu tenho que pagar pela mixagem e masterização e eu invisto tempo e dinheiro na minha música e de repente você descobre que alguém está dando o disco de graça, é claro que isso te irrita, porque foi investido muito ali, não só dinheiro. Essa á parte ruim, além do mais, é ilegal esse tipo de download, não deveria nem ser uma coisa pra se discutir. Esses caras que fazem isso são criminosos.
Poderia ser bom se as pessoas baixassem e depois comprassem, espalhassem para os amigos, mas não é o que acontece, existem até sites que você paga uma taxa mensal e você pode ter tudo de graça, isso é errado. Fazer um disco não é fácil, exige muito esforço, as pessoas não imaginam.

Progshine – Você atualmente tem o seu próprio selo, o Reingold Records, você sente o impacto da internet nas vendas dos discos?

Jonas – É difícil dizer, porque eu não tenho como comparar, eu não tenho um antes e depois, já que eu comecei há 2 anos atrás. Mas eu estou contente porque ainda existem pessoas que investem o dinheiro delas para comprar os discos que eu lanço, eu sou muito grato a essas pessoas. Essas pessoas ainda acreditam que é importante comprar o disco e colocar o CD pra tocar em suas casas e ter o sentimento de que aquele disco é dela, é isso que acontece quando você compra um CD. E eu me sinto feliz por ainda existirem essas pessoas.

Progshine – Acredito que isso na verdade é uma diferença de gerações, toda a experiência de comprar o disco, levar pra casa, ‘sentir’ o disco, você acha que essa nova geração perdeu isso tudo?

Jonas – Sim, eu acho que eles perderam isso. Basta olhar pra minha própria casa, eu tenho dois filhos, um menino e uma menina, e o meu filho, que tem 10 anos, acha que tudo é de graça (risos), é só ir até a internet e baixar um programa, um jogo, ou qualquer coisa e é tudo de graça, claro que é de graça, mas não é, eu acabo pagando por tudo (risos). Definitivamente é uma coisa de geração, temos que tentar educar os mais novos, tentar mostrar que quando você baixa um jogo ou qualquer outra coisa você está roubando o trabalho, o tempo, o esforço de alguém. E pra sobreviver como um músico você tem que ser pago pelo seu trabalho, caso contrário a qualidade da música vai despencar.

Progshine – Me parece que hoje em dia música apenas serve como pano de fundo pra alguma coisa que se faz no computador e você não presta atenção de verdade em nada. Acredito que esse seja o pior da nova geração, as pessoas não estão ‘com’ a música, elas só querem ‘ter’ a música. Mas no final das contas ninguém sabe o que está acontecendo no disco ou na música.

Jonas – Provavelmente seja verdade, não posso dizer com certeza, mas é uma coisa triste. E caras como Roine Stolt, eu mesmo, os caras do Yes, ou Steve Hackett que ainda carregam a bandeira da música Progressiva, porque nós nos importamos. Mas nós precisamos do impacto do público pra continuar, ou se torna impossível prosseguir. Se ninguém está realmente prestando atenção porque colocar detalhes nas músicas? Porque trabalhar naquela música mais um dia pra deixar ela melhor ou se esforçar mais numa parte de guitarra ou baixo ou outro instrumento? E desse jeito não se cria nenhum bom músico, compositor ou arranjador pro futuro. A boa música acaba desse jeito.

Progshine – Voltando a você, apesar de você hoje tocar em bandas de Rock Progressivo você tem um passado no Jazz certo?

Jonas – Sim, eu tenho sim, eu sou um grande fã de Jaco Pastorius, mas ao mesmo tempo de Chris Squire (Yes) e procurando o meu próprio estilo, no final das contas é o que todo músico faz desde o começo dos tempos, escutar os seus músicos favoritos, aprender com eles e tentar achar o seu próprio caminho.
Há 20 anos atrás eu praticava muito, 10/12 horas por dia e nos últimos 10/12 anos eu posso dizer que consigo apresentar a minha versão da música dos meus estudos.

Progshine – E como foi pra você transpor a barreira de gêneros?

Jonas – Na verdade eu nunca fui um cara que escuta um único tipo de música. Eu ouço de tudo. Por exemplo, uma das minhas bandas favoritas é o King’s X, eu adoro o estilo de riffs que eles usam. Quando eu era criança, lá pelos 9 anos de idade, eu comecei a ouvir muito Kiss, Iron Maiden, lá pelos 15 anos eu descobri o Yes e comecei a ouvir os discos deles dos ano 80 como o Big Generator (1987)

Progshine – Finalmente achei mais alguém que gosta do Big Generator (1987) e que também acha que o disco é bom (risos).

Jonas – Claro que é! Eu já conhecia ‘Owner Of A Lonely Heart’, mas só de ouvir no rádio, quando o Big Generator (1987) foi lançado eu fui com um amigo em uma loja de discos e compramos o LP, então nós fomos pra casa desse meu amigo, porque ele tinha um super aparelho de som na época, nós colocamos o disco e a primeira faixa era ‘Rhythm Of Love’, o baixo veio direto na minha cara com aquelas notas graves (imita a linha de baixo)… to the rhythm of love. Aquilo foi maravilhoso, a produção do disco era tão boa, era a melhor banda do mundo, só então eu comecei a ouvir os discos mais antigos do Yes como o Drama (1980), o Relayer (1974), o Tales From Topographic Oceans (1973) e etc.
Eu nunca fui ‘esnobe’ com a música, eu posso perfeitamente curtir uma música do AC/DC ou do King’s X ou então Avant Gard, Jazz como John Coltrane, Jaco Pastorius, Weather Report, Chic Corea, Mahavishnu Orchestra, Procol Harum ou Beatles, tudo, Elton John, David Bowie, tudo. Eu tento encontrar a qualidade da música em todos os estilos e dessa influência toda eu tento fazer com que o meu estilo de tocar baixo seja só meu.

Progshine – E quando você entrou no Flower Kings?

Jonas – Bom, eu entrei na banda em 1999, o grupo já tinha alguns discos lançados, meu primeiro disco com a banda foi o Space Revolver (2000), eles já tinham tocado no Japão e EUA e até no Brasil.

Progshine – Você veio com a banda para o Brasil certo?

Jonas – Certo, nos tocamos no Rio de Janeiro e Cataguazes.

Progshine – E como foi que você se juntou à banda?

Jonas – Foi através do Jaime Salazar, o antigo baterista da banda. Eu já conhecia ele antes, nós gravamos alguns e fizemos alguns shows juntos e ele me recomendou para a banda e então eu fui fazer um teste com eles, no final das contas deu tudo certo, eu ainda estou na banda (risos).

Progshine – E antes disso, você tocava com outras bandas?

Jonas – É! Eu toquei com bandas de Hard Rock de alguns selos japoneses. Eu me formei na faculdade quando eu tinha 24 anos ai eu toquei uns 2 anos como free lancer.

Progshine – E a partir dos Flower Kings você acabou tocando com o Kaipa, The Tangent.

Jonas – Sim, sim. No final das contas o Flower Kings é o meu grande ‘guarda-chuva’, eu toquei com muitas bandas e em muitos discos por isso, eu agora tenho meu próprio selo, tenho o Karmakanic, tudo graças ao grupo.

Progshine – E fora o novo disco do Flower Kings e a nova turnê existem mais planos para o futuro próximo da banda?

Jonas – Nós estamos conversando sobre um novo disco do 3rd World Electric talvez com faixas mais curtas e dessa vez gravado ao vivo, porque no primeiro disco nós gravamos mandando os arquivos através da internet. Vamos tentar nos juntar no estúdio dessa vez. Em Abril/Maio eu vou aos EUA para o RosFest com o Karmakanic e com o Agents Of Mercy. Também vamos fazer uma turnê na Europa com o Karmakanic um pouco antes disso. E então terminar o novo disco do Flower Kings e em seguida vamos tocar no Sweden Rock Festival que vai ter 30 mil pessoas por lá. Esses são os planos por enquanto.

Progshine – E o Brasil? Existe possibilidade de tocar por aqui?

Jonas – Eu não sei, tudo depende de dinheiro, é necessário um produtor se interessar e achar que pode ser lucrativo pra ele nos trazer para fazer um show ou tocar em um festival, financiar os shows etc. Seria ótimo, mas é complicado, tem as passagens aéreas, transporte de equipamento etc, é caro.

Progshine – E Jonas, conte aos nossos leitores o que você anda ouvindo?

Jonas – Bem, pra falar a verdade, no últimos mês a única coisa que eu ando ouvindo são as demos do Flower Kings (risos). É verdade, mas eu ouvi bastante o último disco do Coldplay, ouço muito The Band.
Mas pra falar a verdade eu ando muito no Youtube, acabo me perdendo nele, clico nos links e continuo clicando e acabo ouvindo muita coisa diferente por lá.
Andei ouvindo o novo disco do Steven Wilson também, Grace For Drowning (2011), basicamente é ouvir o que estou com vontade de ouvir no momento. Bandas Progs, por exemplo, o novo disco do The Tangent (COMM (2011)) que é muito bom.

Jonas ao vivo com o Flower Kings

Progshine – E a pergunta mais batida de todas, todo jornalista brasileiro gosta de deixar seus entrevistados sem graça com essa pergunta (risos). Você conhece alguma banda do Brasil?

Jonas – Banco não é brasileiro (se referindo a banda Banco Del Mutuo Soccorso)… oh não, eles são da Itália. Eu não conheço muito, mas eu adoro ‘O Bêbado E O Equilibrista’ (cantarola a melodia da música), eu amo essa música. Flora Purim.

Progshine – Pra terminar nossa entrevista Jonas, quais são os seus planos pessoais de agora em diante?

Jonas – Bem, eu perdi 20 quilos (risos), e eu vou competir na prova nacional de corrida e salto em distância dos veteranos, entre 40 e 45 anos. E em 2014 a competição mundial será no Brasil, então existe a possibilidade de eu ir para o Brasil para competir. É uma possibilidade, se for esse o caso nos vemos por ai.

Reingold Records – Site

2 comentários em “Entrevista Exclusiva Com Jonas Reingold”

  1. hahahaha que loko, juro que enquanto lia, pensei nessa pergunta, “o que sera que ele conhece de musica Brasileira?, como o Brasil eh visto la fora ??” e o Diego Progshine fez a pergunta, mandou muito bem \o/

    Muito boa a entrevista =D

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